sábado, 22 de junho de 2013

Alguma Poesia II



O sossego dos pátios vazios
A calma das noites de verão
Iluminadas pelos candeeiros
Da memória infante

Transporte transdimensional
Êxtase intelectual
Que demonstra a fragilidade
Do agora

Vivo melhor e mais feliz
Naquilo que já vivi
Remontado no presente
Pelo gênio sensível
Que em mim mora

Quisera que assim sempre
Tivesse vivido
Pois assim nunca te
Teria perdido

Te manteria assim
Cativa
Escrava
No meu coração

Te consumiria
Quando bem
Me aprouvesse
Em uma noite
De verão



Alguma Poesia I

Sempre é tempo Para começar A viver O que nunca vivemos Seja no sonho tresloucado Da noite insone Seja na fúria insana Da impotência morta Sempre é tempo De retomar O mar perdido Para o inimigo Interno E velejar nas águas Profundas da alma Rediviva pela força Da imaginação Sempre é tempo De recomeçar Para não perder tudo Para a negra criatura Afinal Só vive o que Em fluxo Se mantém Só vive o que Sempre muda Se adapta Se transforma O que mudo e quieto Ficou Já morreu Sem saber havaianas

Sempre é tempo
Para começar
A viver
O que nunca vivemos

Seja no sonho tresloucado
Da noite insone
Seja na fúria insana
Da impotência morta

Sempre é tempo
De retomar
O mar perdido
Para o inimigo Interno

E velejar nas águas
Profundas da alma
Rediviva pela força
Da imaginação

Sempre é tempo
De recomeçar
Para não perder tudo
Para a negra criatura

Afinal
Só vive o que
Em fluxo
Se mantém

Só vive o que
Sempre muda
Se adapta
Se transforma

O que mudo e quieto
Ficou
Já morreu
Sem saber

Sempre é tempo Para começar A viver O que nunca vivemos Seja no sonho tresloucado Da noite insone Seja na fúria insana Da impotência morta Sempre é tempo De retomar O mar perdido Para o inimigo Interno E velejar nas águas Profundas da alma Rediviva pela força Da imaginação Sempre é tempo De recomeçar Para não perder tudo Para a negra criatura Afinal Só vive o que Em fluxo Se mantém Só vive o que Sempre muda Se adapta Se transforma O que mudo e quieto Ficou Já morreu Sem saberhavaianas

Funcionamento da Ciência Moderna

Modelos e Objetos-modelos

Para alunos de pós-graduação em geral

Segue a conclusão de Mario Bunge no capítulo Conceitos de Modelos 
"Converter coisas concretas em imagens conceituais (objetos-modelo) cada vez mais ricos e expandí-las em modelos teóricos progressivamente complexos e cada vez mais fiéis aos fatos, é o únivo método efetivo para apreender a realidade pelo pensamento. É o método inaugurado por Arquimedes em físisca e que em nossos dias triunfa por toda parte onde é testado, mesmo nas ciências do homem. A observação é apenas uma fonte (não a única) de problemas e um teste (não o único tampouco) dos nossos modelos teóricos. A intuição - ou melhor, os diversos tipos de intuição - é uma fonte de idéias que devem ser formuladas explicitamente e submetidas à crítica da razão e dos fatos para serem fecundadas. A razão, enfim, é o instrumento que nos permite construir sistemas com a pobre matéria prima dos sentidos e da intuição. Nenhuma destas componentes do trabalho científico - observação, intuição e razão - pode, por sí só, nos dar a conhecer o real. Elas não passam de aspectos diversos das atividades típicas da pesquisa científica contemporânea: a construção de modelos teóricos e sua comprovação".

Lições do Velho Mestre

Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares... Para esta finalidade, só um novo programa, um novo método, um novo professor e uma nova escola podem bastar” Anísio Teixeira, 1934havaianas
 “Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares... Para esta finalidade, só um novo programa, um novo método, um novo professor e uma nova escola podem bastar” 

Anísio Teixeira, 1934havaianas
Anísio Teixeira, 1934
“Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares... Para esta finalidade, só um novo programa, um novo método, um novo professor e uma nova escola podem bastar” havaianas
Em Defesa da Democraciahavaianas
Em Defesa da Democraciahavaianas
Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares... Para esta finalidade, só um novo programa, um novo método, um novo professor e uma nova escola podem bastar”havaianas
Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares... Para esta finalidade, só um novo programa, um novo método, um novo professor e uma nova escola podem bastar” Anísio Teixeira, 1934havaianas
Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares... Para esta finalidade, só um novo programa, um novo método, um novo professor e uma nova escola podem bastar” Anísio Teixeira, 1934havaianas
Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares... Para esta finalidade, só um novo programa, um novo método, um novo professor e uma nova escola podem bastar” Anísio Teixeira, 1934havaianas
Que enormes, pois, são as novas responsabilidades da escola: educar em vez de instruir; formar homens livres em vez de homens dóceis; preparar para um futuro incerto e desconhecido em vez de transmitir um passado fixo e claro; ensinar a viver com mais inteligência, com mais tolerância, mais finamente, mais nobremente e com maior felicidade, em vez de simplesmente ensinar dois ou três instrumentos de cultura e alguns manuaizinhos escolares... Para esta finalidade, só um novo programa, um novo método, um novo professor e uma nova escola podem bastar” Anísio Teixeira, 1934havaianas

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A USP como Universidade da Elite

    Os movimentos sociais ligados às minorias que defendem cotas raciais têm usado o argumento falacioso de que as Universidades públicas paulistas são elitizadas e, portanto, não democráticas. A natureza da falácia reside na confusão entre os conceitos de democracia e de elite.
    Todos os sistemas sociais e políticos hierarquizados possuem elites. Mesmo o socialismo real ou imaginário possui suas elites, sejam elas autocráticas (Cuba, Koréia do Norte, China), ou sejam elas lideradas por intelectuais orgânicos como proposto por Gramsci. As democracias, independente da orientação política dos dirigentes ( de esquerda ou de direita) são conduzidas por elites (políticas, econômicas, sociais, culturais, etc.). O conceito de elite (do francês élite – o que há de melhor numa sociedade ou num grupo), longe de significar uma característica aleatória ou negativa, significa a existência de uma hierarquia de competência.
    Esse conceito não contradiz ou anula o conceito de democracia. Ao contrario, dele decorre.
    Os alunos que chegam ao final do EM e ingressam na Universidade constituem a elite intelectual da juventude; aqueles, em principio, melhor preparados para prosseguir no curso superior de estudos e dotar a sociedade de indivíduos adequadamente preparados para o exercício das profissões de nível superior, para a docência e para a pesquisa.
    Os movimentos sociais que defendem as cotas querem mitigar o elitismo intelectual, querem subverter o sistema de ingresso meritocrático na Universidade em nome de uma “democratização” que, no fundo, é a substituição da exigência de preparo acadêmico por critérios alheios à universidade como o critério de “raça”. Subverter o vestibular como sistema de ingresso na universidade, na atual circunstância, significaria admitir alunos despreparados academicamente para enfrentar o curso superior. Sendo repetitivo, o instituto do vestibular é democrático e, como disse a Profa. Eunice Durham em recente entrevista: “O vestibular é talvez o mecanismo mais justo de seleção. Só passa que tem capacidade. O filho do senador e o filho da doméstica fazem exatamente a mesma prova”. Neste sentido, “deselitizar” o vestibular significa exatamente não respeitar a democracia na medida da igualdade de direitos.
    Outro argumento similar muito usado por aqueles que defendem as cotas é de que a USP é uma universidade das classes ricas e, portanto, precisa ser democratizada. Esta afirmação é falsa e quem a faz não conhece a realidade. O perfil sócio-econômico dos ingressantes em 2012 indica o contrário. Cerca de 12,3% dos alunos pertenciam a famílias com renda inferior a 3 salários mínimos mensais. Ingressantes de famílias com renda entre 3 e 10 salários mínimos (R$ 2070 a R$ 6900) representavam 50,6%. Apenas 8,7%  dos alunos pertenciam a famílias com renda mensal superior a 20 salários mínimos. Também interessante o fato de que apenas 34% dos ingressantes revelaram depender inteiramente de recursos familiares para se manterem durante o curso universitário. Cerca de 50% declararam que pretendiam trabalhar para se manter e 14,3% dependeriam da concessão de bolsas e auxílios. Os dados mostram, pois, que a USP não é a escola da elite econômica (Classes A e B), mas sim a Universidade das Classes C-D-E. As cotas, pura e simplesmente colocadas, apenas substituirão  grupos de alunos mais preparados por outros grupos menos preparados, mas advindos em sua maioria dos mesmo extratos sociais inferiores da sociedade.

As Cotas Raciais e a USP

As cotas de recorte racial constituem verdadeiro atentado ao bom senso e à boa ciência como já demonstrado por muitos sociólogos, antropólogos, geneticistas, etc. O conceito de raça não tem sustentação científica como provam miríades de estudos biológicos, antropológicos, psicológicos, genômicos, etc.
O conceito de raça sempre foi usado como justificativa para ações discriminatórias, seja para o bem ou para o mal. No Brasil atual, o conceito foi reduzido ao absurdo da autoclassificação para evitar a formação dos comitês classificatórios, tão comuns na Alemanha nazista. A rigor qualquer cidadão brasileiro pode escolher qualquer raça que lhe aprouver e não haverá maneira de contestação a não ser que se criem critérios fenotípicos, biológicos, etc, ou seja sem cair no absurdo da criação dos comitês classificatórios. Aqui mora o perigo.
Diferentemente dos EUA, onde imperava a classificação racial baseada no critério “one blood drop”, ou seja os indivíduos que tivessem um ancestral africano seriam considerados “negros”, no Brasil nunca houve nada parecido. Até muito recentemente não havia classificação racial nos documentos oficiais de identificação ou de inscrição em concursos. Esta prática esta sendo ressuscitada, não por pressão da população, mas por pressão de ativistas e ONGs interessadas em obter vantagens. Neste sentido, o movimento é absolutamente artificial. Senão, vejamos. Por critérios absolutamente autoclassificatórios, cerca de 10% da população brasileira é “preta”. O restante é dividido em “brancos”, pardos, índios e amarelos. Excetuando-se os índios e amarelos, temos entre o “branco” e o “preto” uma infinidade de cores que não servem para classificação. Os indivíduos podem ser “brancos” mais “brancos”, ou “brancos” mais escuros, ou morenos e assim sucessivamente.  O mesmo se dá se considerarmos a genealogia. Brancos seriam considerados aqueles cujos 4 avós fossem europeus e negros aqueles cujos 4 avós fossem africanos. Fora esta classificação, todos seriam pardos ou mestiços pois impossível saber a genealogia “racial” de um filho de “brasileiro”. 
Portanto, não existem características autoclassificatórias que permitam, com precisão uma classificação minimamente coerente. Este fato encontra ressonância nas séries estatísticas recentes do INEP. No documento de 2011, consta que estudavam no ensino superior no estado de São Paulo, 1.704.612 alunos. Destes, 26% se declararam brancos, 1,6% negros e 4,98% pardos. A grande maioria, 67%, não se identificaram com uma “raça” específica. Seria bom que assim permanecesse  e que a própria informação de “raça” não fosse mais solicitada. 
No Brasil não existe identidade de “raça” e a tentativa de criá-la obrigando cada cidadão a se autodeclarar como pertencente a uma “raça”, qualquer que seja ela,  divide os brasileiros de forma absolutamente artificial e introduz oficialmente o racismo que, ao contrário do desejo de minorias ativistas, deve ser rejeitado e combatido. Estes ativistas rapidamente reagirão a esta afirmação adiantando que negar o racismo é promover o preconceito. Nada mais falacioso. O racismo não tem relação direta com o preconceito.
 O preconceito é uma deformação de caráter e de inteligência caracterizado pelo uso das mais diferentes artimanhas para se manifestar contra tudo aquilo que seja diferente, sejam minorias étnicas, sexuais, de costumes, etc. O preconceito provavelmente sempre existiu e continuará a existir independentemente da existência de leis, normas, etc. Combater todo tipo de preconceito é tarefa educacional em senso amplo que deve ser realizado pela sociedade  de forma geral e em bases permanentes. Criar estratos raciais definidos pela cor da pele ou pela autoclassificação racial não acaba com o preconceito; ao contrário, reforça-o visto que obrigará todo cidadão deste país, mesmo a grande maioria que não é preconceituosa, a situar-se dentro de uma classificação artificial de raças, criando grupos ideológicos e de falsa identidade racial motivada por interesses políticos e de grupos organizados na obtenção de vantagens sociais. 
O racismo, por outro lado, é a crença que a humanidade, o gênero humano, é dividido em grupos biológicos distintos denominados “raças” e, mais, que existem raças que são superiores e raças que são inferiores.  Obviamente que esta crença é cientificamente falsa, além de ser moralmente condenável e socialmente perigosa. O crença racista levou aos grandes genocídios étnicos cometidos durante o século XX (holocausto, apartheid, etc.).
Por outro lado, a afirmação do conceito de raça, mesmo no contexto de uma autoclassificação, abre as portas para a separação, para a segregação social. A segregação racial é nociva em todas as suas nuances e versões, seja a negativa que mandou as pessoas para o campo de concentração, seja a versão positiva que pretende mandar as pessoas escolhidas pela “raça” para os bancos universitários. Pertencemos à “raça humana” com toda a sua diversidade fenotípica que precisa ser entendida e respeitada, e não usada para separar e segregar. 

quarta-feira, 19 de junho de 2013

A Questão das Cotas nas Universidades e o Reparo da Escravidão

    Outros argumentos, além da suposta raça, tem sido usado para justificar as cotas raciais. Um dos mais comuns é o argumento do reparo da injustiça cometida pelo sistema de trabalho escravo. A sociedade brasileira deve reparar essa injustiça histórica que foi a escravidão, quando africanos foram trazidos de forma violenta ao país e depois, após a abolição, abandonados.
    Para não fugir ao debate vamos visitar, ainda que rapidamente, essa questão.
    A escravidão é a mais degradante forma de trabalho inventada pelo homem. Existe desde os primórdios da civilização quando os povos vencidos nas batalhas e guerras eram escravizados pelos vencedores e usados em seu benefício.  Desde o começo dos tempos históricos, como narrado na Bíblia, os Hebreus eram escravizados e vendidos.
    O trabalho escravo foi a base das civilizações gregas e romanas. A Atenas dos séculos 5 e 4 AC tinha sua  economia baseada no trabalho escravo. Na antiguidade clássica, Aristóteles em sua Política, sustentou que a escravidão era parte da ordem natural do mundo.
    No império romano a escravidão atingiu patamares espetaculares em termos de organização e regulação jurídica. No auge de Roma, a Itália tinha 9 milhões de habitantes dos quais 2 a 3 milhões (35 a 40%) eram escravos. O direito romano reconheceu e disciplinou  a escravidão. Esse monumental sistema escravagista somente declinou com as invasões bárbaras dos séculos V ao VIII.
    Na idade média, em grande parte da Europa, a economia baseada na escravidão foi substituída pelo sistema de servidão. A escravidão persistiu, no entanto, entre os estados germânicos do norte e experimentou florescimento importante entre os povos não cristãos que ocuparam as terras mediterrâneas entre os séculos VIII e XIII.
    Nos domínios muçulmanos da ilhas mediterrâneas e principalmente na Espanha, o trabalho escravo foi usado de forma intensiva na agricultura e na indústria. A Espanha Islâmica foi grande importadora de escravos cristãos entre os séculos VIII e X. Nos séculos XIII e XIV o Egito importou cerca de 10.000 escravos cristãos por ano.
    Entre os séculos X e XIII, durante a expansão dos genoveses e venezianos para a Palestina, Síria, Mar Negro e Balcãs, houve renovado interesse no comércio de escravos. Na península Ibérica o comércio de escravos somente declinou com a derrota e a expulsão dos mouros, sendo a escravidão substituída pelo sistema de servidão feudal.
    No começo do século XV, quando as caravelas portuguesas atingiram a costa da Guiné, a escravidão na Europa era insignificante, embora a lei romana que a reconhecia imperasse intacta. A escravidão existia na sua forma doméstica e na cidade do Porto, por exemplo, não chegava a 10% dos habitantes.
    Na África, a escravidão existia deste a antiguidade, mas como instituição menor, fruto das guerras entre os diferentes povos. Rotas de comércio de escravos através do Saara em direção ao mediterrâneo existiam deste o império romano. No século VIII, com a expansão do Islã esse comércio adquiriu proporções relevantes. À medida que o Islã se expandia em direção ao oriente, para a Índia e para o Mediterrâneo Oriental, mais intenso se tornou o comércio de escravos no norte africano, principalmente de mulheres e crianças. Estima-se que entre os anos de 800 a 1600 a comercialização de escravos atingiu números da ordem de 5.000 a 10.000 escravos por ano.
    A escravidão africana não era apenas voltada para a exportação. No século XV, no vale do rio Niger por exemplo,  durante o império de Songhay a escravidão interna suportava uma atividade agrícola intensiva de arroz e trigo, tanto para uso interno como para exportação. Escravos também foram usados nas minas de ouro do Sudão e nas minas de sal de Teghaza. Na África oriental, os escravos eram usados na agricultura em Malindi, Mombasa e no norte de Madagascar.
    Antes da chegada dos portugueses à África já existia o comércio intenso de escravos através do norte e do leste que já durava 6 séculos. Por estas rotas estima-se que foram mandados de 3,5 a 10 milhões de escravos africanos  para a Europa Ásia. A chegada dos portugueses inaugurou, a partir do século XV, uma nova rota no comércio internacional de escravos que, no entanto, não diferia substancialmente daquele que foi patrocinado pelos povos islâmicos do norte do continente.
    O interesse português na África era controlar, pelo mar, o comércio de escravos, de ouro e especiarias que se fazia predominantemente pelas rotas saarianas. O interesse primário era o ouro e apenas secundariamente eram escravos, marfim e especiarias. O destino final do comércio de escravos, por volta de 1444 era a Europa onde os escravos se destinavam aos trabalhos domésticos. Os portugueses também comercializavam escravos ao longo da costa africana, ente as diversas nações, em troca de ouro que levavam para a Europa.
    Somente no início do século XVI é que a escravidão  associada com a produção de açúcar se expandiu, inicialmente para as ilhas portuguesas de Madeira e Açores e posteriormente para o Novo Mundo. Na Europa continental a escravidão somente desapareceu por completo no século XVII, mas persistiu na América por todo o século XVIII e grande parte do século XIX.
    Por mais de 3.000 anos, dos tempos de Moisés ao século XVII, o instituto da escravidão não foi questionado, seja pelos homens de estado, seja por filósofos, teólogos, escritores ou críticos. Havia como que uma aceitação natural da escravidão.
    Portanto, a escravidão não é uma invenção brasileira. Foi antes um sistema de produção largamente empregado em grande parte do mundo. No Brasil a escravidão foi introduzida pelo colonizador português que primeiro usou como escravos os índios e os escravos africanos provenientes de Portugal. Somente a partir do século XVII a escravidão com negro africanos se intensificou e se tornou um grande negócio para a colônia. O Estado brasileiro somente passou a existir em 1822 com a independência que, a rigor ainda era uma continuação da casa real portuguesa. O Estado moderno brasileiro inaugura-se com a república em 1889. A abolição da escravidão índia no Brasil ocorreu com Pombal no final do século XVIII e a escravidão negra foi formalmente abolida em 1888. Atribuir ao Estado brasileiro e ao seu povo atual a responsabilidade pelo fenômeno da escravidão que foi universal e que graçou entre os estados africanos desde os tempos pré-romanos, é um exagero político e ideológico sem base histórica. Somente se justifica por meio de uma visão parcial e distorcida do passado.
    Neste diapasão se inclui a justificação das cotas raciais com base na escravidão passada. A implantação das cotas com essa justificativa produzirá situações irrazoáveis: como, por exemplo, dizer a um brasileiro pobre e branco que postule uma vaga na Universidade que, pelo prosaico motivo  dele descender possivelmente de um branco que conviveu com a escravidão negra no Brasil, a partir do século XVII, sem a ela se opor, ele tem menos direitos ou chances de ingresso na Universidade que seu colega de escola, tão pobre quanto ele, mas negro e pelo simples fato de que esse seu colega possivelmente descenda de um daqueles escravos. Qual a lógica dessa distinção? Seguramente nenhuma conforme demonstrado pelos fatos históricos. O sistema de cota racial não objetiva reparação. Ao contrário, objetiva promover uma desacreditada ideologia de raça entre os brasileiros.
    A Universidade, enquanto bastião da razão, não pode se render a esses argumentos falaciosos analisados acima, sob risco de se descaracterizar e se perder na sua função  de promoção da ciência e do humanismo.
    A escravidão foi e ainda é um ignomioso processo praticado contra seres humanos brancos, negros, amarelos e de todas as cores. Merece ser repudiada veementemente. Mas, os brasileiros brancos de hoje não a inventaram e nem são herdeiros diretos de que a inventou ou dela se beneficiou. Quem inventou a escravidão foi a humanidade e neste sentido somos todos, sem exceção, brancos e negros, todos culpados.